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Presidente da Academia Friburguense de Letras é indiciada por intolerância religiosa contra judeus


Em depoimento à Polícia Civil, Maria Janaína Botelho Correa admitiu que escreveu frases como: “Eu também sou antissemita, e daí?” e “judeus canalhas”, entre outros ataques. Ela pediu desculpas à comunidade judaica e disse que teve erro de digitação em um dos casos. Em depoimento à Polícia Civil, Maria Janaína Botelho Correa admitiu que escreveu em suas redes sociais frases como: “Eu também sou antissemita, e daí?” e “judeus canalhas”, entre outros ataques.
Reprodução redes sociais
A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância do Rio de Janeiro (Decradi) indiciou nesta quinta-feira (29) a presidente da Academia Friburguense de Letras, Maria Janaína Botelho Correa, pela prática do crime de intolerância religiosa contra judeus.
Janaína é acusada de ofender e atacar judeus e a comunidade judaica, com publicações em redes sociais. Entre as postagens estão frases como:
“Está na hora do olho por olho dente por dente e fazer assassinatos seletivos de judeus sionistas”, “Eu também sou antissemita, e daí?”, “judeus canalhas”.
De acordo com a delegada Rita Salim, titular da Decradi e responsável pelas investigações, Janaína pode responder pelos crimes de intolerância religiosa e preconceito.
“Maria Janaína vem fazendo inúmeras postagens racistas, que constituem clara incitação à discriminação contra a comunidade judaica, ofendendo explicitamente e pregando a morte do povo Judeu (…). Sendo assim, decidimos pelo indiciamento”, comentou a delegada em seu relatório final encaminhado ao Ministério Público do Estado (MPRJ).
Segundo a legislação brasileira, “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional” é crime e sujeito a pena de prisão de um a três anos e multa.
Presidente da Academia Friburguense de Letras é indiciada por intolerância religiosa contra judeus
Reprodução
Além de ser a atual presidente da Academia Friburguense de Letras, Janaína também foi professora da Universidade Candido Mendes, onde deu aulas de História Geral do Direito, História do Direito Brasileiro e História da Alimentação.
As declarações apontadas como intolerantes aconteceram entre os meses de janeiro e fevereiro de 2024, em resposta a postagens do jornalista Caio Blinder. A denúncia contra Janaína também cita as frases:
“Judeus canalhas”; “Você é um lixo como os judeus sionistas”; “Judeus sionistas genocidas!”; “Mentiras, mentiras e mentiras dos judeus genocidas”.
Presidente admitiu ‘comentário infeliz’
Durante as investigações, Janaína esteve na 151ª DP (Nova Friburgo), na Região Serrana do Rio, para prestar depoimentos sobre o caso.
Na ocasião, ela admitiu ser dona e responsável pelo perfil que fez os comentários na internet. Contudo, Janaína argumentou que não se tratava de postagens e sim comentários, respondendo a publicações feitas por outro usuário.
No depoimento, Janaína alegou ainda que o termo “assassinato seletivo” seria sobre uma prática de guerra conhecida por quem acompanha a política internacional.
Ao g1, ela explicou que se tratava de um debate sobre as mortes de militares de alta patente durante a guerra.
A professora afirmou que a declaração não se trata da sua opinião, reafirmando que foi uma provocação à postagem realizada por outra pessoa. Ela também admitiu ter feito um comentário infeliz. Janaína disse estar arrependida.
“Eu estava falando sobre os sionismo, o sionismo como partido político de extrema-direita e que também é criticado por judeus de Israel. No contexto, falei sobre o assassinato seletivo, quando militares de alta patente são mortos pelos adversário de guerra. Para quem é leigo, ficou parecendo que eu estava falando do assassinato de judeus. Não foi isso. Eu estava falando com uma pessoa que é técnica e conhece o assunto. Eu me arrependo muito porque isso acabou sendo usado contra mim”, disse Janaína ao g1.
Erro material na digitação
Sobre a frase: “Eu também sou antissemita, e daí?”, Janaína argumentou em seu depoimento que houve um erro material na digitação. Segundo ela, sua intenção era escrever: “antissionista”.
“Eu dei azar. Não tenho experiência com as redes sociais. Eu não sou antissemita, foi um erro de digitação. Eu peço desculpas. A minha posição era contra o sionismo, mas eu dei azar e a postagem saiu ‘antissemita’ e não ‘antissionista'”, comentou Janaína.
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Já sobre as outras declarações, Janaína alegou que sua intenção foi de externar a posição crítica ao sionismo e a extrema direita.
A professora declarou aos investigadores que sabe que a intolerância religiosa é crime e disse estar ciente de sua responsabilidade.
A presidente da Academia Friburguense de Letras ainda se desculpou pelas declarações e pediu compreensão à comunidade judaica.
“Eu realmente lamento essa minha inexperiência de rede social. Eu não tenho milhares de seguidores, mas gosto de mostrar meu trabalho e nunca tive nenhum discurso de ódio. Como que uma palavra de grafia errada, de escrita errada, pode ser maior do que anos de trabalhos publicados? O meu trabalho me absolve de tudo isso. Eu não sou antissemita”, afirmou a professora ao g1, depois de citar uma série de trabalhos de memória dos povos judeus em Nova Friburgo.
Janaína disse ainda que vem recebendo muitos ataques em redes sociais, inclusive com pessoas postando ameaças de morte, dando detalhes sobre seu endereço e sua rotina de vida.
O que dizem os citados
A direção da Academia Friburguense de Letras foi procurada pela reportagem para comentar o caso, mas não respondeu os questionamentos feitos por e-mail, até a última atualização desta reportagem.
A presidente da Academia Friburguense de Letras, Janaína Botelho, enviou uma nota ao g1 reafirmando que sua intenção era “apenas externar posição crítica ao sionismo e a extrema-direita que governa o Estado de Israel, no contexto dos bombardeios de Gaza”.
“Reafirmo que meus comentários tinham como alvo o sionismo enquanto corrente política-ideológica e jamais o povo judeu, mas a publicação suprimiu uma palavra que faz toda diferença, o que não aconteceu em outras citações”, escreveu.
Em outro trecho da nota, Janaína explica que houve erro material na digitação. “Minha intenção era escrever “anti sionista”. Infelizmente não percebi no momento esta lamentável substituição de palavra pelo sistema, sendo sabedora de que é crime a intolerância religiosa”.
“Com relação a frase “Está na hora do olho por olho dente por dente e fazer assassinatos seletivos de judeus sionistas” (fevereiro 2024) trata-se de uma frase no qual eu me arrependo profundamente, estando ligada a um contexto de assassinatos seletivos de opositores, militares de alta patente, do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Na realidade não foi uma afirmação, mas uma PROVOCAÇÃO, uma indagação a uma postagem. Insisto foi um comentário infeliz porque não comungo de violência mesmo em uma situação de guerra.
Registro ainda que tenho o maior respeito pelo povo judeu e que repudio veementemente o antissemitismo que tanto horror, perseguição e morte já causou, motivo pelo qual entendo que este incidente está devidamente superado.
Na qualidade de historiadora, sempre zelei pela Memória da perseguição à comunidade judaica de minha cidade, Nova Friburgo (RJ), com alguns artigos publicados em minha coluna nos jornais A Voz da Serra e SERRANEWS, informando sobre a existência no passado de um partido Nazista neste município, no qual até então se desconhecia. Além de artigos, produzi um longa-metragem trazendo novamente a Memória da perseguição de judeus em minha cidade, disponível na plataforma do Youtube.
Peço desde já a compreensão e desculpas pelo transtorno causado à comunidade judaica que goza de meu apreço e carinho”.
Em nota, a Universidade Candido Mendes disse estar “surpreendida pela notícia de declarações de cunho antissemita, supostamente publicadas por uma de suas professoras em seu perfil pessoal nas redes sociais”.
A direção da universidade afirmou que determinou “a adoção das providências para apuração interna da veracidade dessas declarações e a aplicação das sanções cabíveis”.
“Vale esclarecer que a professora supostamente envolvida com as publicações se encontra afastada do quadro docente da Universidade há quatro anos. A Universidade Candido Mendes tem uma tradição de absoluto respeito aos Direitos Humanos e à Liberdade Religiosa, interpretando tais manifestações como incompatíveis com os valores sempre defendidos por esta Casa. Manifestamos nossa total solidariedade à Comunidade Judaica ofendida por esta lamentável conduta”, dizia um trecho da nota.

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